MANIFESTO PELO VOTO NEGRO NO VELHO CHICO E NO BRASIL
Reunindo
integrantes de diversos segmentos da comunidade negra organizada de Juazeiro e
Petrolina, buscando alcançar a região do Velho chico, aquilombando pensamento e
ação, a Frente Negra do Velho Chico tem como propósitos cruciais a promoção do
povo negro na região, no Brasil, na Diáspora, na África e no mundo, assim como
o combate ao racismo.
Constituída
por militantes e integrantes de organizações,
entidades e movimentos negros, sociais, culturais, artísticos e de Direitos
Humanos, a Frente Negra do Velho Chico traz para o povo negro da nossa
região a necessidade do VOTO NEGRO CONSCIENTE e o voto antirracista em
candidaturas negras e antirracistas. Nesta e nas próximas eleições.
Basta
de ser ponta. Basta, chega, não-dá-mais.
A
cada eleição, o roteiro se repete praticamente idêntico:
Nossos
bairros, nossa voz, nossa cultura, nossos tambores, nosso labor, NOSSOS VOTOS,
repentinamente são lembrados. Na maioria das vezes por candidatas e candidatos
que não são negros.
Por
que nós negros não votamos... EM NÓS?
Para
começar, estamos nas margens eleitorais, políticas e sociais do racismo
estrutural. O nosso acesso ao sistema eleitoral neste país sempre foi bloqueado
ou dificultado ao máximo.
A pandemia escancarou o racismo estrutural.
No mundo inteiro e no Brasil.
Urge mais do que em qualquer tempo a defesa da
equidade.
É preciso mudar a correlação de forças.
Visibilizar nossos corpos, nossas pessoas, nossas
pautas.
Poder dizer isso, agora, já é revolucionário.
Conseguirmos liberdade real de ir e vir? Isso será
revolucionário. Igualdade religiosa? Isso será revolucionário. Ensino de nossa
verdadeira e integral história? Isso será revolucionário. Paz, terra, pão,
casa, roupas, empregos dignos? Isso será revolucionário. Fim do genocídio e da
brutalidade policial? Isso será revolucionário. O desmonte do apartheid à
brasileira? Isso será revolucionário.
Somos
Contra a distopia. Somos contra “faz arminha”. Aliás, somos pelo porte de
livros, pela cultura e arte. Somos uma utopia afro-juazeirense,
afro-petrolinense, afro-nordestina, afro-brasileira. Negra.
Mas
somos realistas. Para piorar, datas das convenções (online) de eleição e
registro dos candidatos, entre outros movimentos, comprometem a vitória da cota
para negros dentro dos partidos nas eleições
Candidaturas
orgânicas foram alijadas, enquanto alianças com conservadores históricos têm
sido feitas.
Um
destaque positivo? O crescimento de negros na disputa pela vereança. Um
destaque negativo? Uma evolução bem menor nas candidaturas negras para
prefeit@...
Olho
vivo! É preciso muita cautela ao crescimento de candidaturas negras de forma
instrumental. Estamos alertas ao cumprir-se das decisões do STF (reserva de
vagas e de recursos; tempo de propaganda) e, em especial, se no lugar de
inclusão, as candidatas e candidatos negros estão sendo usados como puxadores
de votos para a legenda, ampliando a base dos majoritários. Chega de fazer dos
candidatos negros, em resumo, cabos eleitorais.
Pois
repudiamos o racismo institucional e estrutural e, defendemos que CANDIDATURAS
NEGRAS IMPORTAM. MANDATOS NEGROS IMPORTAM. VIDAS NEGRAS IMPORTAM.
Nossa
abordagem é muito ao contrário EMANCIPADORA.
Nós
viemos da grandeza. Nossos passos vêm de longe.
É
tempo da força negra em sobreviver a tantos séculos de iniquidade se tornar
PODER NEGRO para VIVER.
Pois
por mais que Marielle Franco tenha virado semente. Por mais que ela viva em
nós, MARIELLE FOI COVARDEMENTE MORTA.
BASTA!
Por
um futuro livre de racismo e de TODAS as opressões.
Entenda-se
bem: só haverá democracia com a erradicação do racismo.
Logo,
este Manifesto se dirige não apenas ao voto negro consciente e ao mandato negro
consciente, mas uma exigência de voto antirracista e de que os mandatos sejam
todos eles engajados no antirracismo, sendo obrigação de todos os sujeitos
políticos e não apenas d@s negr@s.
A
Frente Negra é um processo recente, mas que só foi possível por conta dos
acúmulos de sangue e suor de gerações e gerações de negros em movimento que nos
antecederam no Velho Chico. Portanto, os movimentos negros têm que ser
reconhecidos nos nossos municípios como atores fundamentais na construção de
uma cidadania efetiva.
Ou
mudamos a história ou ela se repetirá com perdas como as de Miguel (PE), Agata
(RJ), João Pedro (RJ), Euvaldo (RJ), George Floyd (EUA), Adama Traoré (França,
19/7/2016).
Repudiamos enquanto Frente todas candidaturas que tenham respaldado ou ainda respaldem o golpe político de que o Brasil foi palco em 2016, bem como e principalmente repudiamos candidaturas que insistem na neutralidade racial, no apoio ou omissão ao apartheid brasileiro. Repudiamos o nazi-racismo que campeia solto no Governo e em estruturas de Estado.
Onde
não estaríamos se o critério COR/RAÇA já estivesse institucionalizado em ações
de saúde pública, como na emergência de prevenção ao Covid? Ou se o Estatuto da
Igualdade Racial já estivesse em vigor? Onde poderemos estar quando as
políticas fossem formuladas e operacionalizadas por nós? Os serviços sociais
seriam melhores? Não temos a menor dúvida.
Conforme
a análise precisa da Coalizão Negra por Direitos:
Lidamos com uma concepção de nação
materializada na prática cotidiana de assassinatos de um jovem negro a cada 23
minutos; chacinas diárias;
estado penal e encarceramento
crescentes e com muita violência contra população carcerária e internos dos
sistemas sócio educativos;
assassinato da população negra
LGBTTQI+ e crescentes números de feminicídio de mulheres negras; estupros e
assassinatos de crianças negras;
perseguição de imigrantes, refugiados
e refugiadas negras;
criminalização e violência contra a
população em situação de rua;
acirramento dos conflitos nos
territórios dos povos tradicionais quilombolas e ações sistemáticas de terror
contra as religiões de matriz africana.
Tal qual a Coalizão Negra,
entendemos que as opressões dirigidas ao povo negro “se relacionam a um sistema
global capitalista-neoliberal, supremacista branco e patriarcal”. Assim, nossa
libertação vai além das fronteiras nacionais. Precisamos adotar uma postura
internacionalista e pan-africana de enfrentamento de tais opressões na
Diáspora, pois há séculos são parte de um projeto político mundial.
Precisamos de organização
POLÍTICA.
A vida política tem no
município um dos seus palcos mais estratégicos. E nós seremos atrizes e atores
com cada vez mais protagonismo. A periferia é o Centro.
E a transformação começa por
nós. Nós por nós.
É mais do que tempo de
despertar.
Voto negro. Agora e sempre.
AMANDLA!*
Frente Negra do Velho Chico
1/11/2020, Velho Chico
*PODER!
Nenhum comentário:
Postar um comentário