Queremos campanhas e ações de combate à pandemia. Não queremos campanhas
racistas. Queremos respeito!
Nos últimos dias, a
população negra de Juazeiro – que, segundo o IBGE/SIDRA corresponde a 73% - foi
agredida publicamente pela Prefeitura Municipal com uma campanha de combate a
pandemia por Coronavírus usando personagens negros(as), em destaque uma
manequim negra, como exemplo de pessoa ‘irresponsável’, por não respeitar os
protocolos de isolamento social e, consequentemente, responsável pela
proliferação do Covid 19.
Nessa campanha pública,
paga com recursos públicos, as mulheres negras são apontadas como irresponsáveis.
Justamente um dos segmentos sociais que mais tem sofrido as consequências da
falta de políticas públicas nesse um ano de pandemia. São as mulheres negras,
as que mais perdem emprego e renda. Mas é a imagem de uma negra que a atual
Prefeitura usa para representar as pessoas que fazem aglomerações e festas
irregulares.
É preciso refletir sobre
a armadilha semiótica dessa propaganda. A grande mídia e o poder público não
questionam, por exemplo, o fato de que as pessoas que se aglomeram em
transporte público - porque são obrigadas a trabalhar ou buscar o sustento -
são negras. As expressões ‘irresponsável’, ‘erro’ e ‘culpa’ deveriam ser
dispensadas ao Executivo Federal que, em um ano de pandemia, já está no seu
quarto ministro de Saúde e, entre vários erros, permitiu que o número de óbitos
ultrapassasse as 300 mil pessoas.
Os Movimentos Negros em
Juazeiro têm desde o início da pandemia realizado campanhas não só de
arrecadação de alimentos e materiais de higiene, mas promovido campanhas
efetivamente educativas. Carros de som nos bairros, aulas públicas virtuais e
outros conteúdos na internet são apenas alguns exemplos. Levamos pautas levadas
às Prefeituras de Juazeiro (e também de Petrolina), desde abril de 2020,
apresentando e explicando essas mesmas pautas em reuniões com as secretarias
municipais, argumentando no sentido dos impactos benéficos de uma abordagem
antirracista no combate à pandemia.
Em suma: os Movimentos
Negros estão atuantes e alertas, e se colocando à disposição da luta contra a
Covid-19 desde o início. Foram esses movimentos os responsáveis pela aprovação
do Estatuto da Igualdade Racial e de Combate ao Racismo Religioso nas duas
cidades!!!. Em plena pandemia conseguimos aprovar essas duas leis fundamentais
no combate às desigualdades históricas, que explodem durante a pandemia.
A melhor maneira do atual
Governo Municipal se redimir dessa demonstração explicita de racismo é
retirando essa campanha de circulação e pedindo desculpas, publicamente, ao
povo negro, substituindo-a por peças publicitárias realmente educativas e que
efetivamente promovam uma diversidade real e respeitosa.
Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Juazeiro - BA (Compir)
Frente
Negra do Velho Chico
Coletivo
de Assessoria Jurídica Universitária Popular Luiz Gama - CAJUP/UNEB
Associação Cultural São Bartolomeu (Vodun Jidãn Dãn dá Rum Bessenador)
Pérola
Negra – UNIVASF
Núcleo
de Arte e Educação Nego D´Agua - Naenda
Coletivo Abdias de Teatro Negro
Conselho
de Segurança Alimentar de Juazeiro
Grupo
de pesquisas Rhecados – Hierarquizações raciais, Comunicação e Direitos Humanos
Afoxé
Filhos de Zaze
Coletivo
Enxame
Coletivo
Pretas, Pretos, LGBT+ e Periféricos
MNU - Movimento Negro Unificado Nacional