quarta-feira, 11 de novembro de 2020

FORMAÇÃO NOVEMBRO NEGRO II



FORMAÇÃO NOVEMBRO NEGRO II

Comunicação, Racismo e Direitos Humanos


Êa, povo preto! Êa, galera antirracista! 

Chegamos à segunda edição da Formação do Novembro Negro em Juazeiro.

Os módulos serão oferecidos em dois encontros por semana de duas horas cada.


24/11 e 26/11, 19h-21h: Módulo I (Compir/RHECADOS-Uneb) - Mídia e Racismo após o assassinato de George Floyd


01/12 e 03/12, 19h-21h: Módulo II (Neafrar Univasf/Frente Negra do Velho Chico) - História do Movimento Negro após a "Abolição"


08/12 e 10/12, 19h-21h: Módulo III (CAJUP) - Racismo e Direito


Até lá!

AMANDLA!!


Atenção: as inscrições - gratuitas - são feitas exclusivamente online.

domingo, 1 de novembro de 2020

VOTO NEGRO NO VELHO CHICO E NO BRASIL (MANIFESTO)





MANIFESTO PELO VOTO NEGRO NO VELHO CHICO E NO BRASIL


Reunindo integrantes de diversos segmentos da comunidade negra organizada de Juazeiro e Petrolina, buscando alcançar a região do Velho chico, aquilombando pensamento e ação, a Frente Negra do Velho Chico tem como propósitos cruciais a promoção do povo negro na região, no Brasil, na Diáspora, na África e no mundo, assim como o combate ao racismo.

Constituída por militantes e integrantes de organizações, entidades e movimentos negros, sociais, culturais, artísticos e de Direitos Humanos, a Frente Negra do Velho Chico traz para o povo negro da nossa região a necessidade do VOTO NEGRO CONSCIENTE e o voto antirracista em candidaturas negras e antirracistas. Nesta e nas próximas eleições.

Basta de ser ponta. Basta, chega, não-dá-mais.

A cada eleição, o roteiro se repete praticamente idêntico:

Nossos bairros, nossa voz, nossa cultura, nossos tambores, nosso labor, NOSSOS VOTOS, repentinamente são lembrados. Na maioria das vezes por candidatas e candidatos que não são negros.

Por que nós negros não votamos... EM NÓS?

Para começar, estamos nas margens eleitorais, políticas e sociais do racismo estrutural. O nosso acesso ao sistema eleitoral neste país sempre foi bloqueado ou dificultado ao máximo.

A pandemia escancarou o racismo estrutural.

No mundo inteiro e no Brasil.

Urge mais do que em qualquer tempo a defesa da equidade.

É preciso mudar a correlação de forças.

Visibilizar nossos corpos, nossas pessoas, nossas pautas.

Poder dizer isso, agora, já é revolucionário.

Conseguirmos liberdade real de ir e vir? Isso será revolucionário. Igualdade religiosa? Isso será revolucionário. Ensino de nossa verdadeira e integral história? Isso será revolucionário. Paz, terra, pão, casa, roupas, empregos dignos? Isso será revolucionário. Fim do genocídio e da brutalidade policial? Isso será revolucionário. O desmonte do apartheid à brasileira? Isso será revolucionário.

Somos Contra a distopia. Somos contra “faz arminha”. Aliás, somos pelo porte de livros, pela cultura e arte. Somos uma utopia afro-juazeirense, afro-petrolinense, afro-nordestina, afro-brasileira. Negra.

Mas somos realistas. Para piorar, datas das convenções (online) de eleição e registro dos candidatos, entre outros movimentos, comprometem a vitória da cota para negros dentro dos partidos nas eleições

Candidaturas orgânicas foram alijadas, enquanto alianças com conservadores históricos têm sido feitas.

Um destaque positivo? O crescimento de negros na disputa pela vereança. Um destaque negativo? Uma evolução bem menor nas candidaturas negras para prefeit@...

Olho vivo! É preciso muita cautela ao crescimento de candidaturas negras de forma instrumental. Estamos alertas ao cumprir-se das decisões do STF (reserva de vagas e de recursos; tempo de propaganda) e, em especial, se no lugar de inclusão, as candidatas e candidatos negros estão sendo usados como puxadores de votos para a legenda, ampliando a base dos majoritários. Chega de fazer dos candidatos negros, em resumo, cabos eleitorais.

Pois repudiamos o racismo institucional e estrutural e, defendemos que CANDIDATURAS NEGRAS IMPORTAM. MANDATOS NEGROS IMPORTAM. VIDAS NEGRAS IMPORTAM.

Nossa abordagem é muito ao contrário EMANCIPADORA.

Nós viemos da grandeza. Nossos passos vêm de longe.

É tempo da força negra em sobreviver a tantos séculos de iniquidade se tornar PODER NEGRO para VIVER.

Pois por mais que Marielle Franco tenha virado semente. Por mais que ela viva em nós, MARIELLE FOI COVARDEMENTE MORTA.

BASTA!

 

Por um futuro livre de racismo e de TODAS as opressões.

Entenda-se bem: só haverá democracia com a erradicação do racismo.

Logo, este Manifesto se dirige não apenas ao voto negro consciente e ao mandato negro consciente, mas uma exigência de voto antirracista e de que os mandatos sejam todos eles engajados no antirracismo, sendo obrigação de todos os sujeitos políticos e não apenas d@s negr@s.

A Frente Negra é um processo recente, mas que só foi possível por conta dos acúmulos de sangue e suor de gerações e gerações de negros em movimento que nos antecederam no Velho Chico. Portanto, os movimentos negros têm que ser reconhecidos nos nossos municípios como atores fundamentais na construção de uma cidadania efetiva.

Ou mudamos a história ou ela se repetirá com perdas como as de Miguel (PE), Agata (RJ), João Pedro (RJ), Euvaldo (RJ), George Floyd (EUA), Adama Traoré (França, 19/7/2016).

Repudiamos enquanto Frente todas candidaturas que tenham respaldado ou ainda respaldem o golpe político de que o Brasil foi palco em 2016, bem como e principalmente repudiamos candidaturas que insistem na neutralidade racial, no apoio ou omissão ao apartheid brasileiro. Repudiamos o nazi-racismo que campeia solto no Governo e em estruturas de Estado.

Onde não estaríamos se o critério COR/RAÇA já estivesse institucionalizado em ações de saúde pública, como na emergência de prevenção ao Covid? Ou se o Estatuto da Igualdade Racial já estivesse em vigor? Onde poderemos estar quando as políticas fossem formuladas e operacionalizadas por nós? Os serviços sociais seriam melhores? Não temos a menor dúvida.

Conforme a análise precisa da Coalizão Negra por Direitos:

 

Lidamos com uma concepção de nação materializada na prática cotidiana de assassinatos de um jovem negro a cada 23 minutos; chacinas diárias;

estado penal e encarceramento crescentes e com muita violência contra população carcerária e internos dos sistemas sócio educativos;

assassinato da população negra LGBTTQI+ e crescentes números de feminicídio de mulheres negras; estupros e assassinatos de crianças negras;

perseguição de imigrantes, refugiados e refugiadas negras;

criminalização e violência contra a população em situação de rua;

acirramento dos conflitos nos territórios dos povos tradicionais quilombolas e ações sistemáticas de terror contra as religiões de matriz africana.

               

Tal qual a Coalizão Negra, entendemos que as opressões dirigidas ao povo negro “se relacionam a um sistema global capitalista-neoliberal, supremacista branco e patriarcal”. Assim, nossa libertação vai além das fronteiras nacionais. Precisamos adotar uma postura internacionalista e pan-africana de enfrentamento de tais opressões na Diáspora, pois há séculos são parte de um projeto político mundial.

Precisamos de organização POLÍTICA.

A vida política tem no município um dos seus palcos mais estratégicos. E nós seremos atrizes e atores com cada vez mais protagonismo. A periferia é o Centro.

E a transformação começa por nós. Nós por nós.

É mais do que tempo de despertar.

Voto negro. Agora e sempre.

AMANDLA!*


Frente Negra do Velho Chico


1/11/2020, Velho Chico


*PODER!