Todo o apoio a Danny Silva*
*atualizado 20h02
Fonte da imagem: cristianesobral.blogspot.com
A Frente Negra do Velho Chico vem a público repudiar
mais um ato criminoso de racismo, utilizando as redes sociais para destilação
de ódio racial. No dia 01 de agosto, Dia Mundial da Amamentação, a doula,
Dannyely Andréia Silva, no auge da sua atividade laboral, de sensibilização em
relação ao tema do aleitamento materno, foi atacada por perfis racistas que
utilizaram a sua raça/cor como motivação, na tentativa de desqualificá-la
profissionalmente. Além de terem denunciado a sua página diversas vezes, ao ponto
de o Instagram bloquear a sua conta particular.
Dannyely Andréia Silva é uma mulher negra, mãe e exerce
uma atividade profissional como doula, cujo o papel está diretamente ligada ao
bem estar da mulher gestante – antes, durante e depois do parto. O papel da
doula é oferecer conforto, encorajamento, tranquilidade, suporte emocional,
físico e informativo durante o período de intensas transformações em que a
mulher grávida está vivenciando. Essa profissional faz um trabalho competente,
responsável e extremamente requisitado em nossa região.
As motivações que levam a esses ataques violentos nas
redes sociais não ocorrem de maneira isolada. Esses ataques acontecem
constantemente direcionadas à população negra e aos demais grupos
historicamente perseguidos, na tentativa da manutenção e da permanência do
silenciamento histórico desses grupos. Além do esforço da permanência da
hegemonia branca heteronormativa e cristã ortodoxa nos espaços de fala, de
visibilidade e poder.
A violência ocorreu, porque Dannyely colocou o seu ponto de vista a respeito
da postagem de uma profissional de
saúde, que postou uma fotografia da estátua que fica na Orla Nova da Cidade de
Juazeiro da Bahia, com o intuito de homenagear o Agosto Dourado - Mês de
conscientização do aleitamento materno. A referida obra, de uma artista local,
retrata uma Mulher Negra, com cara de fera, amamentando duas crianças brancas e
uma criança negra chorando. Danny foi no privado da autora da filmagem e colocou que aquela imagem não era símbolo de
homenagem, mas de opressão, com a qual mulheres negras escravizadas, foram
obrigadas a conviver, tendo que amamentar os filhos das mulheres brancas, em
detrimento dos seus filhos negros, que choravam de fome.
A profissional de saúde, que na ocasião aceitou
a crítica e utilizou a contextualização feita por Dannyely, para debater o
assunto do combate ao racismo estrutural, com os seus seguidores, além de ter
pedido desculpas, que antes da conversa com Danny, tinha uma outra compreensão,
mas que a partir dali, mudou a sua concepção. Vale citar que esta profissional
não era negra. Ela não sofreu nenhum ataque ou ofensa moral. Não teve sua
imagem violentada, nem sua atividade profissional desqualificada. É importante
citar esse cenário, porque é muito sintomática para a relação de violência que
a mulher negra sofre na sociedade brasileira. Ainda mais se estiver ocupando um
espaço profissional, qualificado e reconhecido, como Dannyely sempre foi. A
violência seletiva, situada, exemplifica o racismo estrutural, ao qual somos
diariamente submetidos.
Em nossa região, essas violências estão cada vez mais
frequentes. Por isso, a Frente Negra desempenha um papel importante na denúncia
e no esforço do reparo às vítimas agredidas. A Frente Negra atenta ao racismo
virtual e solicita às autoridades competentes apuração deste ato de violência
sofrido por Dannyely. Além de exigir a averiguação de outros casos de crimes
virtuais por motivações raciais e violências correlatas, praticados em nossa
região, por indivíduos que utilizam das redes sociais para nos violentar e que
permanecem atuando em razão da impunidade.
Ciente de que, hoje, as cidades de Petrolina/PE e
Juazeiro/BA não contam com setores
públicos equipados para a real apuração de casos como esses, a Frente
Negra vem a público solicitar aos Governadores dos Estados da Bahia e de
Pernambuco a instalação de delegacias especializadas em crimes virtuais – que
já são penalidades previstas no código criminal do nosso país, como é o caso da
Lei de Crimes Cibernéticos, 12.737/2012, conhecida como Lei Carolina Dieckmann,
que tipifica atos virtuais de violência
como invadir computadores, violar dados de usuários ou “derrubar” sites e
perfis. Além do Marco Civil da Internet, Lei 12.965/2014, que foi sancionado em
2014 e regula os direitos e deveres dos internautas na internet brasileira.
Assim, a Frente Negra por meio de seus membros e
coletivos que a compõe se coloca à disposição para seguir com a denúncia, para
amparar Dannyely Andréia Silva e não permitir mais essa impunidade aos racistas.
Mas, acima de tudo, a Frente Negra vem dar apoiar dar suporte a essa mulher
negra, mãe e profissional, compreendendo a dor e o adoecimento que o racismo
estrutural provoca em quem sofre esse tipo de violação dos seus direitos. Essa
dor que nos é compartilhada pelos anos das nossas vidas, por isso,
coletivamente, conseguimos enfrentá-la.