SOMOS
CONTRA O PROGRAMA DE REABERTURA DE
JUAZEIRO
(BA) E PETROLINA (PE)
VIDAS NEGRAS IMPORTAM!
O
Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial de Juazeiro (COMPIR) e a
Frente Negra do Velho Chico vem manifestar sua discordância sobre o programa de
abertura do comércio de Juazeiro (BA) e
Petrolina (PE), a partir de 01 de Junho de 2020, visto que a cidade ainda
não controlou a epidemia do COVID-19 e ainda não realizou testes na magnitude
mínima necessária.
O
Boletim nº 8¹ de 1 de Junho de 2020 divulgado pelo Comitê Científico do Nordeste, reporta que em
Juazeiro houve um aumento de 191% dos casos, demonstrando que ainda estamos em acessão da curva
epidemiológica.
É
necessário que o processo de reabertura aconteça por meio de mecanismos
participativos e critérios objetivos de saúde, caso contrário esse relaxamento
prematuro das medidas preventivas pode levar a um aumento rápido de contágios e
mortes pelo coronavírus e ao stresse do sistema de saúde dos municípios, com
concreto risco de colapso dos mesmos. Apesar da Covid-19 ser uma doença que tem
contaminado pessoas indistintamente, as pesquisas apontam que as principais
vítimas fatais estão entre as pessoas negras: 54,8% dos negros e negras internados
por Covid-19 morrem, enquanto entre os brancos a porcentagem de mortos é de
37,9%, segundo pesquisa realizada por 14 pesquisadores do NOIS (Núcleo de
Operações e Inteligência em Saúde) da Puc (Pontifícia Universidade Católica) do
Rio de Janeiro.
A FIOCRUZ²
lançou uma nota técnica baseada no documento da Organização Mundial de Saúde
(OMS) coloca 3 pontos e critérios objetivos que devem ser cumpridos antes de
flexibilizar as medidas e o COMPIR solicita que deveriam ser observada antes da
reabertura do comercio.
Os
critérios são:
1) Existem indícios
de que a pandemia está controlada?
2) O Sistema de Saúde
tem capacidade de enfrentar o crescimento do número de casos de COVID-19 ou
eventual ressurgimento de casos após adaptar algumas medidas?
3) O sistema de
vigilância em saúde pode identificar a maioria dos casos e os seus contatos?
1) Existem indícios
de que a pandemia está controlada?
Indicador
Chave: Número efetivo de reprodução (Rt) inferior a 1 por pelo menos duas
semanas. Em teoria, um Rt (número efetivo de casos secundários por caso de
infecção em uma população) menor que 1 é a melhor indicação de que a pandemia
está controlada e está diminuindo.
Em
países, estados e municípios com grande contingente populacional, o Rt pode
variar entre diferentes segmentos da população e deve ser estimado para estes
diferentes segmentos (municípios e bairros, por exemplo). Para determinar se a
pandemia está controlada, uma avaliação qualitativa, baseada em alguns ou todos
os critérios a seguir, deve ser realizada para complementar as estimativas de
Rt ou para conduzir uma avaliação robusta do Rt, se dados de vigilância
suficientes não estiverem disponíveis.
Neste sentido, a adoção do
quesito cor/raça nos questionários e levantamentos é imperativo, em especial no
contexto de cidades de maioria negra e alto déficit de igualdade racial como o
são Juazeiro e Petrolina.
2) O Sistema de Saúde tem capacidade de enfrentar o
crescimento do número de casos de COVID-19 ou eventual ressurgimento de casos
após adaptar algumas medidas?
Indicador
Chave: O número de casos que requerem hospitalização é menor do que a
capacidade máxima de leitos hospitalares e de UTIs do Sistema de Saúde (ou
seja, que o Sistema de Saúde pode enfrentar novas hospitalizações sem ficar
sobrecarregado e manter, ao mesmo tempo, a prestação de serviços essenciais).
3) O sistema de
vigilância em saúde pode identificar a maioria dos casos e os seus contatos?
É
fundamental realizar um número suficiente de testes laboratoriais e elaborar
uma estratégia clara para identificar a cadeia de contágio de maneira rápida e
precisa.
É importante salientar que Juazeiro, por
exemplo, conta com poucos leitos de UTI na cidade e ainda recebe a demanda da
região circunvizinha e se uma pequena parcela da população for contaminada já é
o suficiente para lotar o sistema de saúde. Levando em consideração o índice de
internação encontrado na China³ uma contaminação de 1% da população Juazeirense
pelo Covid-19 iria gerar 108 pessoas necessitando de UTI e a cidade conta com
menos de 20 leitos.
Outro
fator relevante é a falta de imunidade da população do município para esse
vírus. A Pesquisa Nacional Evolução da Prevalência de Infecção por COVID-19
(Epicovid19-BR)4 e relatou uma prevalência <1% de anticorpos para
o coronavírus.
Portanto, as programações de
reabertura do comércio em nossa região TÊM QUE SER REVISTAS URGENTEMENTE. É
preciso muita calma, muita prudência, muita cautela, ainda mais quando a
pandemia tem o Brasil como epicentro nos últimos dias.
A população negra é
a mais vulnerável, mas nem por isso não está atenta e alerta.
Juazeiro
(BA) e Petrolina (PE), 5 de junho de 2020.
1 Comitê Científico do Consorcio do
Nordeste – Boletim nº 8. <acessado em 2 de Julho de 2020> link: https://www.comitecientifico-ne.com.br/boletim.
2
FIOCRUZ. FREITAS, C.M.; TRAVASSOS, C. M. R.; BARCELLOS, C.; MACHADO, C. V.;
VILLELA, D. A. M.; PORTELA, M. C. e FERNANDES, V. R. Nota Técnica Sobre a Importância das Medidas de Distanciamento Social
no Contexto Atual da COVID-19 no Rio de Janeiro. 1 de Junho de 2020.
3 WU, Z; MCGOOGAN, J. JAMA. Link:
jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/276213.
4 Epicovid19-BR.
COVID-19 no Brasil: várias epidemias num só país Primeira
fase do EPICOVID19 reforça preocupação com a região Norte. <acessado em 1 de Junho
de 2020> link: COVID-19 no Brasil:
várias epidemias num só país Primeira fase do EPICOVID19 reforça preocupação
com a região Norte.